NEUMOLOGÍA PEDIÁTRICA
Neumol Pediatr 2021; 16 (1): 5 - 10 C o n t e n i d o d i s p o n i b l e e n h t t p : / / www. n e umo l o g i a - p e d i a t r i c a . c l 9 Técnica de oscilações forçadas na avaliação e manejo de crianças asmáticas: uma revisão narrativa DISCUSSÃO TÉCNICA DE OSCILAÇÕES FORÇADAS A FOT foi proposta em 1956 a partir da elaboração de um método que permitisse avaliar propriedades mecâni- cas do sistema respiratório. A caracterização da impedância respiratória é constituída a partir da análise de seus compo- nentes: resistência (R rs ) e reatância (X rs ). Estes valores são obtidos por meio da sobreposição de oscilações de pressão sobre a ventilação no período da avaliação. (8) Uma das prin- cipais vantagens deste método é a facilidade da realização das manobras, sendo exigido apenas que o indivíduo realize incursões respiratórias em volume corrente para que possam ser obtidos os dados de impedância do sistema respiratório. (9) IMPEDÂNCIA PULMONAR A Z rs demonstra a carga mecânica total oferecida pelo sistema respiratório, bem como suas propriedades resis- tivas, elásticas e interativas. A impedância é composta pela R rs e X rs , sendo determinada em oscilações multifrequenciais. (1,17) A R rs descreve a dispersão total de energia, engloban- do a soma do produto das resistências newtonianas relacio- nadas às vias aéreas, ao tecido pulmonar e à parede torácica, bem como a resistência que resulta da redistribuição do gás. (8) A X rs descreve o acúmulo de energia no sistema respi- ratório, a energia potencial está associada à complacência respiratória (C rs ), enquanto energia cinética é descrita pela Inertância respiratória (I rs ). (9) A I rs está relacionada à energia envolvida na aceleração e desaceleração do fluido (ar) nas vias aéreas assim como do tecido pulmonar. (1) A medida da impedância pela FOT baseia-se na resposta às oscilações de pressão aplicadas nas vias aéreas. Estes impulsos são gerados por um alto-falante e induzem um fluxo oscilatório onde a amplitude da onda é inversamente proporcional a impedância mecânica do sistema respiratório (Z rs ). (15) Frequências mais elevadas representam a impe- dância de regiões mais centrais, enquanto frequências baixas descrevem áreas centrais e periféricas do sistema respirató- rio. (71) Os diferentes meios de avaliação por esta ferramen- ta apresentam benefícios específicos. A análise por ondas monofrequênciais são adequadas para avaliação instantânea da respiração, uma vez que esta permite observar as alte- rações presentes na via aéreas durante um ciclo respiratório. Este método de avaliação contempla propriedades resistivas e elásticas do sistema respiratório. (5,7,13,15,17) Os estudos que utilizaram avaliação multifrequen- cial e representam a maior parte dos trabalhos analisados (71%), esse tipo de análise pode ser caracterizada com lenta, uma vez que representa a média do comportamento do sis- tema respiratório ao longo de vários ciclos ventilatórios, ge- rando resultados mais detalhados. Os índices obtidos a partir desta análise contemplam R rs e X rs em várias frequências, permitindo avaliação de índices associados à resistência to- tal, não homogeneidade e complacência dinâmica do sistema respiratório. (1-4,6,8,9-12,14,16,18) APLICABILIDADE EM ASMÁTICOS Apesar de sua criação em meados de 1950, os primeiros estudos envolvendo a análise direta da asma em crianças, por intermédio da FOT, apareceram no ano de 1970. Os estudos iniciais mostraram que crianças asmáticas apre- sentavam aumento da resistência total do sistema respirató- rio em decorrência da diminuição do calibre das vias aéreas. Esta característica é melhor descrita em medidas de baixa frequência, que incluem vias aéreas centrais e periféricas. (1,3,7) A complacência total do sistema respiratório tam- bém aparece alterada em asmáticos, fator associado ao aumento da resistência das vias aéreas periféricas como destacado anteriormente. Contudo, essa modificação tam- bém é aliada ao conjunto de alterações anatomopatológicas causado pelo remodelamento brônquico, fator que restringe a elasticidade das vias aéreas e provoca constrição excessiva da musculatura lisa dos brônquios. (14) A heterogeneidade da ventilação, comumente alterada em doenças obstrutivas pulmonares, também reduz a complacência respiratória pelo aprisionamento aéreo, afetando a reatância respiratória ob- servada pela FOT. (1,10,19) A R rs e a X rs são marcadores indiretos de obstrução bronquial e tem boa sensibilidade para avaliar vias aéreas periféricas. (12,17) A redução da resistência após a inalação de broncodilatador tem boa sensibilidade e excelente especi- ficidade para asma em crianças. (11,21) FOT E ESPIROMETRIA NA ASMA O teste de espirometria é o mais utilizado na ava- liação de distúrbios obstrutivos das vias aéreas, entretanto, apresenta restrições em faixas etárias inferiores a seis anos, ainda que a American Thoracic Society (ATS) e European Res- piratory Society (ERS) tenham estabelecido critérios de acei- tabilidade e reprodutibilidade mais flexíveis para esse grupo. (1) Neste âmbito, a capacidade da FOT de apresentar uma avaliação não-invasiva e em volume corrente das parti- cularidades mecânicas do sistema respiratório é de grande interesse clinico. Pesquisas demonstram a capacidade dessa técnica de ser empregada em crianças menores de 2 anos, o que pode antecipar o diagnóstico de doenças respiratórias, permitindo a elaboração de estratégias adequadas mais pre- cocemente. (19) A FOT apresenta capacidade equivalente à espirometria para caracterizar a função pulmonar, tanto em crianças asmáticos, quanto em saudáveis. Em doenças de vias aéreas periféricas, a FOT apresentou maior poder de análise, ainda que, as variáveis obtidas pela espirometria, como o VEF 1 , apresentem maior eficácia para demonstrar in- formações sobre diagnóstico e níveis de controle. (4) CONSIDERAÇÕES FINAIS A FOT apresenta alto índice de sensibilidade na ava- liação do sistema respiratório, podendo ser uma ferramenta promissora na avaliação da função pulmonar de crianças asmáticas. Parte do seu sucesso se deve a simplicidade do método, por ser um modelo não-invasivo de fácil aplicação e pouca necessidade de colaboração do paciente. Em crianças asmáticas, essa técnica mostrou maior acurácia na avaliação de vias aéreas periféricas de menor calibre, podendo ser apli- cada como método complementar a espirometria para en-
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